Usurpei a minha mente para sobreviver ao caos deixado pelo rastilho incendiário da tua outrora presença. Sou a chama apagada pela desavença. Sou a desesperança encarnada ousando contornar a tua ausência. Com a criação de um beijo nunca dado, de uma lembrança inexistente do teu corpo ao meu colado, integrados num conjugar de movimentos sentidos e transpirados por cada poro carnal, divinal, fogo intenso sem igual.
Usurpei a minha mente para sobreviver à dolorosa experiência deixada pelo teu ser. Sou trovão que rebentou eletricamente num oceano, de ondas não cessadas, canto de sereia que melodia o teu dano, sequela de um desejo em tudo profano. Insano. Emano. A vontade de em ti mergulhar, sem oxigénio que me permita à tona voltar, ficando para sempre perdida, afundada, nesse teu mar, de invento e provocação, palavras de sonho e desejos em vão, declamados no mais profundo dos segredos da devassidão.
Usurpei a minha mente para sobreviver. Mas somente resta o desejo de morrer. De perder este sentir que me faz querer vir ao interior mais profundo e obscuro da nunca jamais e sempre vivida inexistência. De dois corpos dançando no palco da sobrevivência.
Usurpei a minha mente para sobreviver. Pois só na minha mente... te conseguirei ter.